Neste 3º artigo, sobre a possível criação de uma estação ecológica em Maués, vou me permitir falar sobre nosso município, pois, às vezes, minha percepção indica que algumas iniciativas como a do Instituto Chico Mendes, ICM-bio, são formuladas sem estudos prévios da realidade e sobre os impactos sociais as populações residentes, inclusive, estas sendo vistas como transtornos a serem removidos.
Ouvir a população é necessário
Para a apresentação de uma proposta de tamanha envergadura três condições preliminares deveriam ser atendidas: visita prévia, esclarecimento e consulta direta a população residente nas áreas a serem impactadas e debate público em fóruns e casas legislativas pertinentes.
No entanto, se tais ações ocorreram foram tímidas o suficiente para estarem em completo desconhecimento dos trabalhadores, comerciantes, professores, estudantes, agricultores, pescadores e outros segmentos não consultados.
Maués com uma população recenseada em 2010 de 52.236habitantes e estimada para 2011 de 53.216 é o 8º mais populoso município do Amazonas, desta população 51,5% reside em 189 comunidades na zona rural. Segundo o IBGE (Censo 2010) possui 10.004 domicílios e destes 2.647 (26,45%) não possuíam energia elétrica e 4.616 (46%) se abasteciam de água de forma precária e sem tratamento. 72,45% das famílias tem rendimento mensal igual ou menor a R$260,00 ou não tem rendimentos, vivendo abaixo da linha da pobreza. A taxa de analfabetismo no município é de 15% da população.
O Produto Interno Bruto em 2008 foi de R$ 210.821 mil,  assim distribuído:  agropecuária 23,22%, indústria 8,46%, serviços 65,72% e impostos 2,58% e PIB per capita de R$ 4.319. O município possui uma elevada taxa de dependência econômica das Atividades Públicas. Em 2007, 46,28% do PIB municipal proviam de recursos federais, estaduais e municipais demonstrando uma taxa de dependência alta para funcionamento da economia.
Desenvolver para proteger
Exposto esses dados perguntasse aos formuladores da proposta: em quê a criação da Estação Ecológica de Maués irá contribuir para melhorar esse quadro? Ou será que dificultará ainda mais a situação da população?
Nosso município necessita se organizar, planejar suas políticas públicas municipais visando reerguer sua economia, como forma de garantir renda e trabalho para a população.
É vergonhoso, em pleno século XXI, estarmos acuados por uma chaga social, a miséria, que frustra as expectativas da juventude e rompe os lares possibilitando o crescimento da violência, da prostituição e o uso e tráfico de drogas, só para citar alguns subprodutos da miséria, da educação de má qualidade e da falta de oportunidades.
Por isso, toda proposta de subtração dos recursos naturais disponíveis para usufruto da população, deve, no mínimo, ser acompanhada de compensações econômicas e sociais, ou então, significarão apenas uma inversão de valores onde o ser humano deixa de ser o principal objetivo da governança pública e surge apenas como um objeto acessório de políticas de gabinete.

Alfredo Almeida – É maueense, empresário e presidente do PMDB de Maués. Foi Secretário Extraordinário do Estado do Amazonas no período de 2004 a 2006, Deputado Estadual no Amazonas na legislatura 1998 a 2002, vereador em duas legislatura (1988 a 1992/1993 a 1996) e Presidente da Câmara Municipal de Maués no período 1995/1996.