Todo dia ouço reclamações sobre a
falta de emprego, o “dinheiro que sumiu”da cidade, o prefeito viajando…, a
cidade sitiada pelo crime, e penso, comigo mesmo, sobre o que deve ser feito
para mudar a situação dos meus irmãos mauesenses.
Sempre vi na floresta, dada por
Deus, o imenso celeiro de oportunidades sustentáveis para gerar renda para as
famílias. Contudo, vez ou outra, sou assombrado por problemas causados por
propostas originadas por pessoas distantes da nossa realidade.
Unidades de Conservação - Amazonas |
A última veio do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade -ICMbio, que recentemente apresentou a
proposta de criação da Estação Ecolológica de Maués para compensar os impactos ambientais decorrentes da
instalação de três hidrelétricas no rio Tapajós, Estado do Pará, pelo Governo
Federal.
Isso iniciou um efervescente debate
sobre a oportunidade da iniciativa. Felizmente, até provem o contrário, se
conseguirem, contra a proposta.
A proposta é complexa, pois apresenta uma série de componentes
ambientais, políticos, econômicos e, principalmente, sociais.
Apesar da extrema complexidade o
assunto vinha sendo tratado divorciado dos principais agentes a serem
atingidos: os cidadãos mauesenses, principalmente, as populações das áreas a
serem atingidas.
Em função disso passo a participar
desse debate. Agora e nos próximos dias irei postar diversos artigos abordando diferentes
facetas da questão. É preciso esclarecer a população dos inúmeros elementos presentes
na discussão. Somente discutindo-os é possível chegar a um denominador que
permita aos cidadãos de Maués se posicionarem no debate.
Primeiramente é preciso esclarecer
que o município de Maués possui 3.998.840 ha. Atualmente, deste total, a
Floresta Estadual de Maués ocupa 438.440,32 ha (10,96 %) e a Floresta Nacional
do Pau Rosa 827.877 ha (20,7%), somados a Reserva Indígena Sateré Mawe o município
tem quase 50% de sua extensão territorial comprometidos com unidades de
conservação e reserva indígena. Sendo que as duas unidades de conservação foram
criadas em 2003 e 2001, respectivamente, e a reserva indígena em 1986.
Segundos dados do Programa de Monitoramento
da Amazônia Legal, a partir das análises de dados do periodo de junho de 2010 a
junho de 2011, o Amazonas é o quarto colocado no índice de desmatamento,
ficando atrás de Rondônia, Mato Grosso e Pará, que ocupa a primeira posição no
ranking, responsável por 38,3% do total desmatado no periodo.
Seguindo os números, o Amazonas tem
contribuído, efetivamente, para a preservação da nossa floresta e contribuído
decisivamente para o resultado obtido em 2011: a menor taxa de desmate
registrada na Amazônia desde 1988.
Desmate por Estado. Fonte: INPE |
No mesmo caminho, Maués é um dos
municípios brasileiros e amazônicos com maior taxa de conservação da floresta nativa,
97%. Logo,
é estranha a proposta de “penalizar” a população que zela por seu ecossistema com
a criação de uma Estação Ecológica.
Digo
“penalizar”, pois os números demonstram que a estação deveria ser criada em
regiões ameaçadas e não onde a população tem feito o ‘dever de casa”, conservando
a floresta para as futuras gerações e não emitindo gases do efeito estufa, como
o carbono.
Ao
contrário de entravar a disponibilidade dos recursos, oriundos da floresta,
para usofruto da população amazonense e, em especial do maueense, com a criação
de uma unidade de conservação onde somente a pesquisa e o estudo são
permissíveis, o debate deveria ter como tema a utilização sustentável dos
recursos da floresta em benefício das populações tradicionais da Amazônia,
agentes essenciais para a proteção e conservação do patrimônio natural
amazônico.
No
próximo artigo trataremos sobre os prejuízos econômicos a Maués se a estação
for criada, pois ela possuiria 6,6 mil km2, 17% da área do
município, ou seja, somada as demais unidades de conservação, quase 70% do
território de Maués.
Até
logo.
Alfredo Almeida – É maueense, empresário e presidente do PMDB de Maués. Foi Secretário Extraordinário do Estado do Amazonas no período de 2004 a 2006, Deputado Estadual no Amazonas na legislatura 1998 a 2002, vereador em duas legislatura (1988 a 1992/1993 a 1996) e Presidente da Câmara Municipal de Maués no período 1995/1996.
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