Ao caminhar pelas ruas de Maués, ouço numa e noutra conversa, uma versão sobre a atual briga entre criador e criatura (ex-prefeito e atual prefeito de nosso sofrido município): tudo seria uma farsa para possibilitar o retorno do criador à administração da Prefeitura.
Ouvindo a versão sateré sobre a briga, vem a memória um fato político ocorrido nos anos 60, antes do golpe militar. Fato que hoje, 25 de agosto, comemora 50 anos, a renúncia de Jânio Quadros.
Juscelino Kubtischek, JK, foi um presidente que terminou o mandato com altos níveis de popularidade. Porém em virtude da construção de Brasília e de outras obras faraônicas endividou o Brasil, a um ponto que até hoje pagamos a conta. Por esse motivo sofria contínuos ataques da oposição e da sociedade brasileira.
Estrategicamente JK queria decidir por um sucessor que tivesse grande possibilidade de ter um governo impopular e, então, abrisse as portas de seu retorno à presidência do Brasil nas eleições de 1965, como o “salvador da pátria”.
Os pés indicam como vai a cabeça
JK tinha inicialmente optado por apoiar o marechal Henrique Lott, pois este tinha garantido a sua posse em 1955, mas decidiu-se por Juracy Magalhães da UDN, partido da oposição. Juracy era um conservador e causaria um descontentamento social. Mas no final a UDN acabou lançando a candidatura de Jânio Quadros (que tinha o apoio da UDN), ex-governador de São Paulo, um homem sem identidade, oscilante entre a política de esquerda e de direita. Aquele que ao mesmo tempo condecora o Ministro da Economia de Cuba, Che Guevara, e proíbe o uso de biquínis nas praias do Rio de Janeiro.
O governo de Jânio Quadros, caracterizado pelo populismo e pelo conservadorismo, só durou 07 meses e em 25 de agosto renuncia à presidência do Brasil, iniciando um dos períodos mais longo, turbulento e cruel para o povo: crise para a posse de João Goulart e o golpe militar de 1964.
Fala-se que estrategicamente, mesmo apoiando o marechal Lott, JK preferia Jânio Quadros por ser um indivíduo sem envergadura para ocupar o mais alto cargo da administração federal, mesmo ciente da possibilidade desse governo ser um desastre para o país, simplesmente porque queria voltar a exercer a presidência da república, na próxima eleição (1965), pois naquela época não existia o instituto da reeleição.
De lá pra cá estamos refazendo a história do Brasil. Reconstruindo a democracia, desfazendo a cruel concentração de renda, ainda, existente no país e buscando retomar o caminho do desenvolvimento.
Voltando a nossa realidade. Um povo não pode continuar sofrendo em função dos desejos de algum indivíduo em voltar ao poder. Principalmente daqueles que já tiveram a oportunidade de ajudar o povo e a desperdiçaram criando obras inacabadas e projetos que só endividaram o pequeno proprietário e os agricultores.
Deve-se ficar de olho para não cair em farsas teatrais de péssimo gosto. E por último um adágio popular de grande sabedoria, “onde há fumaça, há fogo”. 
Alfredo Almeida – É Presidente do PMDB de Maués, foi Secretário Extraordinário do Estado do Amazonas no período de 2004 a 2006, Deputado Estadual no Amazonas na legislatura 1998 a 2002, vereador em duas legislatura (1988 a 1992/1993 a 1996) e Presidente da Câmara Municipal de Maués no período 1995/1996.